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Dita a lenda que a ilha Timor tem origem num crocodilo já velho e cansado que parte numa viagem com um menino, em busca de um disco dourado: o sol nascente.

A meio do caminho, incapaz de continuar a viagem, o crocodilo diz:

“Não consigo mais… Vou ter de ficar por aqui”.

É neste momento que o corpo do crocodilo começa a crescer imensamente, transformando-se numa ilha.

O rapaz, agora homem, encontra no seu peito o disco dourado que ambos procuravam. Depois de dar a volta à ilha, contemplando a sua beleza, o rapaz decide chamar à ilha Timor, que significa: oriente, onde nasce o sol.

A suportar a lenda, existe o facto de Timor ter o formato de um crocodilo à tona de água.

Imagem satélite de Timor

Esta crença levou à convicção de que o crocodilo é “o avô” dos timorenses, sendo considerado um animal sagrado.

O povo acredita que os crocodilos só atacam as pessoas que cometem erros, os pecadores, os mal-intencionados.

O crocodilo é, portanto, um animal protegido e a sua reprodução não é controlada.

Quais as consequências?

  • O desenvolvimento das comunidades é comprometido, principalmente das que vivem em zonas de maior risco. Nestas comunidades, por vezes, o único meio de subsistência é a pesca.
  • Limita o crescimento económico e o desenvolvimento do país. Timor-Leste é de facto um país lindíssimo, com serras densas a culminar em praias de água azul-turquesa. Mas a presença de crocodilos torna os mergulhos altamente arriscados e o turismo impossível.

Poderíamos perguntar, “e onde está o pensamento crítico?”

Olhemos o contexto histórico.

Durante o período da ocupação Indonésia em Timor-Leste (1975 a 1999), era morto quem falasse português, era morto quem opinasse e os missionários eram mortos sem razão aparente.
O povo adaptou-se a calar, a manter os seus pensamentos, opiniões e questões para si próprio.

Depois da restauração da independência, em 2002, a língua portuguesa já tinha caído em desuso. Ainda assim, e talvez em jeito de afirmação, a língua Portuguesa foi escolhida para a língua do ensino. Ao longo dos anos, foi crescendo um generalizado desinteresse pela escola e pelo conhecimento. Gerou-se falta de estímulo, desenvolvimento cognitivo, criatividade e proatividade. Questões que se perpetuam de geração em geração, até à atualidade.

A acrescentar ao flagelo, temos de considerar ainda o isolamento informativo. Esqueçamos os livros e as bibliotecas, consideremos apenas o mundo online, ao qual o povo vai tendo acesso. O português é-lhes desconhecido e o inglês idem em aspas, resta-lhes o tetum (e nem este é conhecido de todos). Não existe conteúdo online em tetum, exceto o que é criado por eles, e este circula pelo Facebook e Instagram, com todas as suas limitações, perigos e futilidades.

Questionar a crença, procurar mudança são tudo menos preocupações para este povo!

E, simplesmente porque a nossa língua de trabalho é o português, a GiraCatavento criará impacto em Timor-Leste.

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